sexta-feira, fevereiro 18, 2005

barraco filogenético

Aproveito para repassar aqui um comentário que fiz há pouco tempo para o pessoal do laboratório, mas que acho que ilustra a saudável questão das discordâncias científicas (o que está comentado é um aspecto específico, mas pode-se generalizar que "barracos" como este - ou piores - acontecem em todos os campos da ciência):

"Tá o maior barraco: Nardi et al. publicaram na Science (2003) que os insetos não são monofiléticos... não ser monofilético causa horror a "sistemáticos" e outros bichos, e como consequência de preservar-se a questão monofilética, a solução é a re-estruturação de categorias taxonômicas, considerada por muitos outra heresia, pois muitas categorias taxonômicas foram calcadas em mármore, granito, titanium, etc, e serão mantidas até o túmulo por inúmeros taxonomistas.
Enfim, qual é o barraco: outros pesquisadores (Delsuc et al.) re-examinaram os dados originais de Nardi et al. e aplicaram outra metodologia de análise, para corrigir diversos artefatos relacionados à natureza das sequências nucleotídicas mitocondriais, e obtiveram uma árvore menos "escandalosa" onde os insetos (todos pais de família e bons seres-vivos) são bastante monofiléticos e não ficam 'parafiliando' (formando grupos parafiléticos) por aí com outros grupinhos menos esclarecidos... Claro que Nardi et al. respondem ao chamado e tacham os insetos de parafiléticos novamente e o vértice de todo esse pandemônio continuam sendo os collembolas (a abelha e o piolho são também vilões nessa história mas apenas coadjuvantes para deixar o thriller mais intrincado). E aí quem vira o vilão total: os dados moleculares! Eis que surje um Bitsch et al. e alerta: as moléculas ainda estão muito aquém de ganhar confiança para querer mudar o status de 'coisas taxonômicas' em artrópodes, eis a proposta morfológica!
Pessoal, desculpem o tom de brincadeira com que lido com questões de tão grande impacto (Science), envolvendo uma classe tão querida a nós do laboratório - por abrigar nossas varejeiras e muscas companheiras de trabalho (até surgir um moleculólogo desavisado e incluí-las sabe-se-lá onde...) - e a outros amadores e profissionais que incluem entomologistas entusiastas, sistematas por natureza e biólogos aventureiros. Os dados moleculares envolvem nossos também queridos genomas mitocondriais, portanto imagino que aqueles desenvolvendo projetos nesta áreas possam estar interessados. Para aqueles que tiverem curiosidade em acompanhar com detalhes esta discussão, posso passar a referência dos artigos que citei acima, OK? " Nota 10!

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